Viver é pensar: isso vale para todos os viventes, sejam eles amebas, árvores, tigres ou filósofos. Não é isso, afinal, o que afirma o perspectivismo ameríndio, a saber, que todo vivente é um pensante?
Se Descartes nos ensinou, a nós modernos, a dizer “eu penso, logo existo” – a dizer, portanto, que a única vida ou existência que consigo pensar como indubitável é a minha própria -, o perspectivismo ameríndio começa pela afirmação duplamente inversa: “o outro existe, logo pensa”.
E se esse que existe é outro, então seu pensamento é necessariamente outro que o meu. Quem sabe até deva concluir que, se penso, então também sou um outro. Pois só o outro pensa, só é interessante o pensamento enquanto potência de alteridade. O que seria uma boa definição da antropologia. E também uma boa definição da antropofagia, no sentido que este termo recebeu em certo alto momento do pensamento brasileiro, aquele representado pela genial e enigmática figura de Oswald de Andrade: “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. Lei do antropólogo."


Eduardo Viveiros de Castro - Entrevista à revista Amazonía Peruana, 2007


To live is to think: this is true for all living beings, whether they are amoebas, trees, tigers or philosophers. Isn't this, after all, what Amerindian perspectivism affirms, namely, that every living being is a thinker?
If Descartes taught us moderns to say “I think, therefore I am” – to say, therefore, that the only life or existence I can think of as indubitable is my own –, Amerindian perspectivism begins with the doubly inverse statement: “the other exists, therefore he thinks”.
And if the one that exists is another, then your thinking is necessarily different than mine. Who knows, I might even conclude that if I think, then I am also someone else. Because only the other thinks, only thought is interesting as a power of alterity. What would be a good definition of anthropology. And also a good definition of anthropophagy, in the sense that this term received at a certain high point in Brazilian thought, the one represented by the brilliant and enigmatic figure of Oswald de Andrade: “I am only interested in what is not mine. Man's law. Law of the Anthropophagus.” Anthropologist's law.


Who in fact stopped at the specific point of ther north beach? Who gave the order to my body to look in the direction of the sea, appreciate the reflection of the midday sun on the waves and actually notice that the whole, the wind on my chin, the warmth of the sun, the pleasant thoughts, the whole experience was nice and soothing? Was it the same someone that decided to take my shirt off, run towards the sea and jump into it? How did I get there, by order of who, and who was really appreaciating it?


Upon reading "Training in Compassion" by Norman Fischer


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